Diversidade

A DIVA E O DIVERSICON FESTIVAL DA DIVERSIDADE

A DIVA E O DIVERSICON FESTIVAL DA DIVERSIDADE

Por Marcelo Téo

TEMPO DE LEITURA: 8 MINUTOS

O Diversicon Festival da Diversidade edição São Paulo foi um projeto realizado pela Show 1000 produções de eventos com o apoio do Governo do Estado de São Paulo, Secretaria de Cultura e Economia Criativa e Governo Federal, através da Lei Aldir Blanc e edital ProAC Expresso Lab. O festival foi transmitido ao vivo entre os dias 9 e 11 de abril e logo poderá ser acessado no canal do Youtube do evento. 

A Diva foi convidada a participar de todo o processo, da concepção à realização, assumindo responsabilidades fundamentais ligadas ao campo da diversidade: projeto, branding, curadoria, concepção das mesas, roteiros, conteúdos e mídias sociais.

O desafio (problema) era criar um evento que fosse acessível em todos os sentidos, que trouxesse uma discussão consistente sobre diversidade, com representatividade real, em todas as instâncias, focado em problematizar – e não celebrar – o debate em torno das ações de Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I) no mercado e na sociedade como um todo.

Conceito e storytelling

Nossa estratégia foi, através de uma experiência multisciplinar no campo da diversidade e de uma equipe diversa, criar uma estrutura multifocal, a partir da qual o evento foi construído. 

Um ponto de partida (soluções) foi a definição do tripé conceitual: raça, corpo e território. São três categorias que englobam os debates sobre diversidade. Através delas, temas gerais como racismo estrutural, normatividade, gênero, capacitismo, branquitude, entre tantos outros foram abordados.

Além do âmbito conceitual, a estrutura dos painéis conta com pilares do storytelling, adaptados à realidade dos debates culturais, indo do micro ao macro de forma progressiva. Cada dia contou com duas lives, dentro de um eixo temático. No primeiro dia, Corpos em Movimento, privilegiamos experiências individuais e debates identitários, com duas mesas: 1. Repensar a norma: uma conversa sobre acolhimento da diversidade; e 2. Cultura e representatividade: sobre marcadores de opressão e privilégios. O segundo dia, Olhares sobre a Estrutura, contempla alguns dos principais problemas estruturais que marcam nossa sociedade (racismo, sexismo, machismo, homofobia, transfobia, branquitude, papéis e desafios da tecnologia, entre outros) a partir de duas mesas bastante ricas: 3. Tecnologia, racismo e cultura; e 4. Desequilíbrio de histórias: a desigualdade do ponto de vista narrativo e cultural. No terceiro dia, Caminhos Possíveis, abordamos propostas de solução para o combate à desigualdade e para a construção de uma sociedade mais justa. As mesas 5. Diversidade não é cartão postal: cultura, mercado e inclusão; e 6. Cultura, política, educação e ativismo: resistir, demandar e transformar, fecharam a programação, que você pode conferir clicando nos hiperlinks acima.


Conseguimos reunir referências do ativismo nos mais diversos segmentos, e tivemos a chance de pensar cada painel em detalhe, criando roteiros conectados com questões da atualidade e com as histórias pessoais de cada convidade, ambos elementos importantes para criar conexões e despertar o interesse da audiência. Nossa prioridade foi criar oportunidades de aprendizado através da escuta, criando um evento acessível em todos os sentidos: na estrutura, na forma, no conteúdo. O resultado foram painéis riquíssimos, com uma crescente profundidade nos debates. Tudo isso você pode conferir no canal no Youtube do evento.

A curadoria

A curadoria do Diversicon Festival da Diversidade foi um processo colaborativo, liderado pela Diva mas que envolveu, em alguma medida, todo o núcleo da equipe do evento. Dado o cenário pandêmico e as inúmeras variáveis eleitas como prioridades de um evento que tem no seu cerne a busca por representatividade real, o fechamento dos painéis foi um quebra-cabeças bastante complexo.

Mas ao final, o palco do Diversicon São Paulo recebeu personalidades únicas, representantes de comunidades minorizadas diversas em sua maioria absoluta. Nomes como Bixarte, Katú Mirim, Leandrinha Du Art, Helena Vieira, Amanda Palha, Carmen Silva, Ketty Valencio, Mumu Silva, Zaika dos Santos, Léo Castilho, Kitana Dreams, Maira Reis, Luiz Ketú, entre outres marcaram presença com falas contundentes, comoventes e inspiradoras. 

fundo colorido com fotos de pessoas diversas

A experiência foi incrível, especialmente para uma iniciativa que, como nós, tem no seu centro o combate ao desequilíbrio de histórias, e que, portanto, entende que a representatividade é uma necessidade fundamental à transformação social e à luta contra a desigualdade.

Protagonismo

Todos os painéis do Diversicon Festival da Diversidade edição São Paulo tiveram protagonismos diversos e interseccionais. Recebemos pessoas brilhantes, verdadeiras protagonistas do presente, que carregam saberes importantes para ajudar a construir caminhos saudáveis para um futuro menos desigual e mais sustentável.

Apesar do foco em diversidade, nosses convidades tiveram a chance de mostrar que suas experiências excedem a ação de seus marcadores de opressão. Assim, pessoas negras não falaram só sobre racismo, mas sobre tecnologia, sobre mercado, sobre soluções para esse mundo em chamas. Indígenas falaram sobre arte, sobre publicidade, sobre narrativas. Pessoas com deficiência falaram sobre tecnologia, sobre sexualidade, desejo. Pessoas trans falaram sobre educação, política, corpos etc. 

Por que isso é importante? Porque a representatividade deve, sempre, estar acompanhada de igualdade de oportunidades. Ela é falaciosa quando apenas garante a presença sem fazer ruir a subalternização das comunidades minorizadas através do protagonismo de seus representantes. Não dá para lembrar da sabedoria indígena no mês de abril, ou discutir racismo no mês da consciência negra e assim por diante.

Branding

A história da Diva com o Diversicon Festival da Diversidade começa com o branding. Nossa participação no projeto se deu para selar um compromisso com a diversidade. Logo, todos os processos internos deveriam carregar essa responsabilidade. A começar pela construção da identidade visual. Falemos um pouco sobre ela.

Sua estética ressalta a diversidade no seu aspecto orgânico. É uma identidade de contrastes, mas também de harmonia e ritmo. Todos os elementos em conjunto criam um ritmo estético vibrante, que se renova a partir de aplicações simples de cor, grid e proporção.

A esfera dentro da letra D carrega ambiguidades saudáveis, compatíveis com o conceito de diversidade: 1. o mundo está contido na diversidade; 2. o movimento infinito e contínuo de compreensão e experiência da pluralidade que nos cerca; 3. as bolhas que precisam ser estouradas para que seja compreendido o valor transformador da diversidade.

A linguagem utilizada nos materiais visuais, como as formas orgânicas coloridas ao fundo das imagens de pessoas em preto e branco, têm o intuito de gerar uma sensação de movimento orgânico, que conecta os gestos e territórios da cultura. 

Os selos coloridos remetem a adesivos que também têm ligação com a cultura das ruas, dos movimentos sociais e das diferentes formas de ocupação dos espaços urbanos.

O branding priorizou, ao final, uma interação sutil entre os pilares conceituais do evento – corpo, raça e território – e as premissas que guiaram a sua construção – empatia, representatividade, protagonismo, acessibilidade. Sua construção só fez estimular o crescimento do Diversicon Festival da Diversidade edição São Paulo como um espaço de fala, de escuta, e de protagonismo de pessoas e comunidades minorizadas.

Um evento de Todes para Todes

A tagline DE TODES PARA TODES resume o ideal de um evento que, de um lado, priorizou a representatividade, e, de outro, defendeu o compromisso de todes com o respeito e com o combate à desigualdade. 

O respeito à diversidade é uma responsabilidade coletiva. Por isso, espaços de debate sobre inclusão devem estar abertos à sociedade como um todo. A construção desses espaços depende da colaboração de diferentes instâncias, instituições e grupos sociais. Falar sobre diversidade é também falar para todes. É estimular a escuta e o interesse de todes. É provocar a conscientização e convidar ao ativismo.

O Diversicon Festival da Diversidade edição São Paulo se tornou uma oportunidade para aprender sobre os debates mais relevantes no campo da diversidade. Um espaço para exercitar a escuta e conhecer novos protagonistas. Um evento para todas as idades, todos os gêneros, todos os corpos, todas as culturas, de todos os lugares. 

Nunca é demais lembrar que saber sobre respeito é um dever de cada um de nós. Não exija des outres a paciência de te ensinar. Dá uma espiada nas lives do Diversicon, acompanha nosso Menu Diva e se mantenha atualizade.

Refrexões, autocrítica e aprendizados

No processo de concepção do evento, foram firmados alguns compromissos com o objetivo de manter o evento nos trilhos, e evitar que fossem cometidos erros comuns em eventos sobre o tema da diversidade. O Diversicon São Paulo foi uma oportunidade para cometermos erros tentando, sempre, acertar e crescer.

Entendemos que fazer um balanço crítico acerca da nossa atuação é fundamental, especialmente transparência e confiança são valores tidos como fundamentais.

Pontos positivos:

  • Comunidades minorizadas foram maioria absoluta entre es debatedories.
  • A representatividade percorreu todos os painéis.
  • Todes es debatedories e artistas receberam cachê.
  • Construímos uma marca consistente e atemporal para essa edição do evento.
  • O núcleo realizador do evento contemplou segmentos diversos.
  • Conteúdos produzidos com alta qualidade, muita profundidade e uma apresentação visual impecável.

Pontos para melhorar:

  • O valor dos cachês foi baixo e isso precisa ser melhor previsto na etapa de orçamentação.
  • Houve um desequilíbrio de forças entre a produção dos conteúdos e a elaboração de estratégias de distribuição, o que teve efeitos sobre a repercussão do evento.
  • Não tivemos indígenas e pessoas com deficiência na equipe que concebeu e produziu o evento.

Provavelmente tem muito mais que ainda falta perceber. Mas o fato é que lidar com complexidade social que envolve o campo da diversidade é, sempre, um desafio. A experiência no Diversicon São Paulo foi incrível e transformadora. Aprendemos demais no processo. E esperamos ter deixado boas bases para as próximas edições. Sucesso ao Diversicon. E fica o convite a todes para dar uma espiada nos resultados da edição São Paulo, disponíveis no canal no Youtube do evento.

Saiba mais sobre a Diva

Uma atuação consistente na área de impacto social depende de um conhecimento profundo sobre o problema que se quer resolver. Nossa equipe estuda há bastante tempo a desigualdade em sua dimensão narrativa – ou o que chamamos de desequilíbrio de histórias. E entendemos que a falta de representatividade, consequência direta do problema, acontece em múltiplas camadas, por diversos motivos. E tudo isso se mistura, dando forma a uma estrutura complexa e difícil de combater. 

Fundo rosa e amarelo com a frase "Break the bubble" em formato circular e um asterisco no meio,  referente a identidade visual do Diversicon edição São Paulo

O silenciamento e a invisibilização de comunidades ou indivíduos minorizades, por exemplo, são praticados na linguagem, multiplicados através de ferramentas tecnológicas, naturalizados em hábitos de consumo aparentemente inofensivos e justificados pelo medo de perder privilégios e pela falta de empatia

Na Diva estamos sempre em busca de soluções que contribuam para corroer essas estruturas e que nos ajudem a imaginar um futuro com protagonismos plurais, com diversidade narrativa, com participação social, igualdade de oportunidades e empatia.

Desenvolvemos metodologias e critérios para o desenvolvimento de projetos em DE&I (Diversidade, Equidade e Inclusão), pautados pela escuta e participação das comunidades envolvidas, que garantem impacto e transformação no processo. 

Se você ou a sua empresa têm interesse em participar dessa mudança, entrem em contato com a gente. 


Break the bubble.
Diva. United by difference.

Marcelo Téo é co-fundador da Diva Inclusive Solutions, pesquisador, educador, produtor de conteúdo, músico e pai. Suas pesquisas dentro e fora do âmbito acadêmico estão voltadas para o consumo narrativo e o papel da diversidade de histórias no desenvolvimento da empatia.